quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A maldição


Guardou-o. Com toda a magia existente, guardou-o. Queria manda-lo para a eternidade e foi exatamente isso que ela fez, pois havia descoberto, enfim, uma maneira. Mas, então, aquele precioso ficaria guardado por séculos, milênios talvez, até que alguém o encontrasse. Melhor, até que O Alguém o encontrasse. O precioso não poderia mais ficar sob a luz do sol, sob a pena de queimar nas profundezas eternas do inferno.  O seu sol tornou-se a lua e o seu dia, a escuridão. Seria eterno, mas com tais condições.

Janice sempre foi apaixonada por Flinston. Sim, o nome do cara era Flinston e a origem é exatamente essa que você está pensando: Os pais dele se chamavam Fred e Vilma, daí a homenagem. Mas voltando, Janice conheceu Flinston no colégio e ficou encantada com o nome exótico daquele menino. De brincadeiras inocentes, surgiu a paixão e o amor. Beijos na hora do recreio, “JF” pintado de corretivo nas carteiras, juras de amor eterno, a primeira vez, a segunda, a terceira, a quarta, o sonhado casamento, o nome dos filhos. Ah, o nome dos filhos: se fosse menina, “Pedrita”!  Previsível, não!?

Mas a vilã dos pesadelos de Janice estava para chegar. Aquela que queria ter Flinston só para ela, o beijo de Flinston, o cheiro de Flinston, o olhar de Flinston, o sorriso de Flinston, o suor de Flinston, a mão de Flinston, o instrumento de Flinston, enfim Flinston, se chamava Valdirene. E Flinston não resistiu aos encantos daquela forasteira linda, a garota mais linda que ele já havia visto. Esqueceu de todo o passado, toda a paixão, todo o amor e deixou Janice para trás.

Janice era somente lágrimas. Não conseguia esquecer tudo aquilo. Não conseguia compreender como Flinston a havia deixado. Se não era possível tê-lo em seus braços naquele momento, como tê-lo para sempre?

Surgiu-lhe a tal idéia: era filha de pai de santo e alguma mandinga havia de ter. Pegou o que havia de mais precioso, o beijo dos dois que, de acordo com as suas palavras, eram os melhores beijos do mundo, os mais gostosos e indescritíveis, e deu-lhe, para sempre, a maldição vampírica.

Guardou-o. Com toda a magia existente, guardou-o. Queria manda-lo para a eternidade e foi exatamente isso que ela fez, pois havia descoberto, enfim, uma maneira. E o precioso, pela eternidade, jamais se alimentaria do pulsar de um amor verdadeiro, mas dos sangues inocentes que perpassassem ali, com toda a sanguinolência que lhe fosse permitido.

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