Guardou-o. Com toda a magia
existente, guardou-o. Queria manda-lo para a eternidade e foi exatamente isso
que ela fez, pois havia descoberto, enfim, uma maneira. Mas, então, aquele
precioso ficaria guardado por séculos, milênios talvez, até que alguém o encontrasse.
Melhor, até que O Alguém o encontrasse. O precioso não poderia mais ficar sob a
luz do sol, sob a pena de queimar nas profundezas eternas do inferno. O seu sol tornou-se a lua e o seu dia, a
escuridão. Seria eterno, mas com tais condições.
Janice sempre foi apaixonada por
Flinston. Sim, o nome do cara era Flinston e a origem é exatamente essa que
você está pensando: Os pais dele se chamavam Fred e Vilma, daí a homenagem. Mas
voltando, Janice conheceu Flinston no colégio e ficou encantada com o nome
exótico daquele menino. De brincadeiras inocentes, surgiu a paixão e o amor.
Beijos na hora do recreio, “JF” pintado de corretivo nas carteiras, juras de
amor eterno, a primeira vez, a segunda, a terceira, a quarta, o sonhado
casamento, o nome dos filhos. Ah, o nome dos filhos: se fosse menina, “Pedrita”! Previsível, não!?
Mas a vilã dos pesadelos de
Janice estava para chegar. Aquela que queria ter Flinston só para ela, o beijo
de Flinston, o cheiro de Flinston, o olhar de Flinston, o sorriso de Flinston,
o suor de Flinston, a mão de Flinston, o instrumento de Flinston, enfim
Flinston, se chamava Valdirene. E Flinston não resistiu aos encantos daquela
forasteira linda, a garota mais linda que ele já havia visto. Esqueceu de todo
o passado, toda a paixão, todo o amor e deixou Janice para trás.
Janice era somente lágrimas. Não
conseguia esquecer tudo aquilo. Não conseguia compreender como Flinston a havia
deixado. Se não era possível tê-lo em seus braços naquele momento, como tê-lo
para sempre?
Surgiu-lhe a tal idéia: era filha
de pai de santo e alguma mandinga havia de ter. Pegou o que havia de mais
precioso, o beijo dos dois que, de acordo com as suas palavras, eram os
melhores beijos do mundo, os mais gostosos e indescritíveis, e deu-lhe, para
sempre, a maldição vampírica.
Guardou-o. Com toda a magia
existente, guardou-o. Queria manda-lo para a eternidade e foi exatamente isso
que ela fez, pois havia descoberto, enfim, uma maneira. E o precioso, pela
eternidade, jamais se alimentaria do pulsar de um amor verdadeiro, mas dos
sangues inocentes que perpassassem ali, com toda a sanguinolência que lhe fosse
permitido.