segunda-feira, 5 de junho de 2006

A despedida veste vermelho

Querido amado Trajano Fernandes,

Escrevo-te agora, pois minh’alma já não agüenta mais tanta saudade. Penso em ti a cada segundo, e morro ao mesmo tempo. Lentamente eu vou construindo o meu mausoléu. Desejo o fulgor dos teus lábios, mas o que eu tenho é só essa confusão melancólica. Amo-te e não amo-te! Peço que um dia perdoes esta pobre indecisa, pois viver meus restantes dias ao teu lado era o meu mais lindo sonho. Agora, apenas neblina. Não consigo enxergar o meu horizonte, mas meu seio ainda clama por ti. Sei que chorarás, mas perdoe-me! Mereço cada pontada de dor que estou sentindo agora, pois não foste tu o culpado do nosso fim, e sim eu! Choro lágrimas de sangue sobre o meu travesseiro, e a minha cama está rodeada de espinhos. Já não durmo mais, tu estás sempre presente em meus sonhos. Mas ainda existem resquícios da indecisão, da palavra mal-declarada. Sinto-me invadida por esse sentimento dúbio e polígamo. Como queria amar-te plenamente, Trajano! Não ames tu a minha pessoa! Meu coração é um vil produto esquecido em um balcão de uma taberna qualquer! Não merecias e não mereces o que eu te fiz, mas tenha certeza de que hoje eu estou em absoluta penitência. Putrefaço neste quarto úmido e sem vida, já não quero mais viver. Já não quero mais viver sendo uma boneca de papel recortada à maneira deste sentimento ambíguo. Hei de matar-me, mas ainda não sei se subirei aos céus, ou se levarei atribulações ao inferno. O fim está iminente, Trajano, mas saiba que te amarei para todo o sempre! Agora, pintarei as paredes deste quarto de vermelho. Serão as reminiscências do meu amor por ti! Adeus, Trajano Fernandes...

Com amor, arrependimento e tristeza,

Maria Henriqueta Sobral