Ele estava só, como sempre. Ele era só. Ele desejou ser só. Sentiu as pernas doerem, já não eram tão leves como antes. Sentou em sua poltrona. Como era macia! O silêncio o abalou, e ele, com dificuldade, levantou-se e pegou um LP na estante: Uma coletânea de música clássica. Ligou o toca-discos, colocou na primeira faixa e sentou-se novamente. Queria ouvir bem alto, sentir a orquestra pulsar dentro do seu corpo. Vizinhos? O que eles queriam com a vida e com a música dele? Nada tinham a ver! Colocou o som no volume máximo. Aqueles chiados do LP, como engrandeciam a música! Imaginou como seria assistir a um concerto sem os chiados. “Ainda vou ser chiadista! Se ainda não existe, serei o primeiro!” Pensou e riu consigo. Idéias malucas sempre fizeram parte do seu cotidiano. Começou a pensar na trajetória da sua vida. Inúmeras lembranças surgiam e o emocionavam. Passou minutos, sentado na sua poltrona, ouvindo o seu LP preferido, no volume em que sempre desejou ouvir, mas nunca havia se atrevido, pois sempre pensou nos vizinhos e nas batidas de vassoura pedindo silêncio. Nada disso o desconcentrou. Ele conhecia muito aquele LP e sabia que já estava perto de terminar o lado A. A sinfonia agora ficava mais intensa, mais animada. Violinos, violoncelos, tímpanos, clarinetes, clarins, tubas, pratos, pianos; todos expressando a sua vitalidade musical. Uma grande mistura de freqüências sonoras harmoniosas. Como era lindo aquilo! Como seres humanos podiam desempenhar tão lindo papel? Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Música e alma trocavam emoções simultaneamente. O disco se aproximava do fim, e ele sentiu uma tristeza súbita acompanhada de uma forte dor no peito. Os instrumentos indicavam o fim da sinfonia, logo o maestro faria o sinal com a batuta. As lágrimas tornaram-se mais densas e volumosas. A sinfonia terminara. A vida dele também. A platéia agora aplaudia o grande espetáculo. Muitas palmas. O disco finalizara. Terminaram, ali, duas estupendas sinfonias em perfeita sincronia.
quinta-feira, 27 de julho de 2006
domingo, 9 de julho de 2006
Vídeo Games, Vídeo Cassetes e Vídeo Vida
Há momentos em que a vida pára: Apenas internamente. Paramos ou queremos parar por dentro. Não há sincronia entre o externo e o interno, é estranho. Vontade de desistir de tudo, de recomeçar tudo outra vez, ou de nem tentar. Mas infelizmente não estamos num jogo. O “Game over” na vida é para sempre, não existem “Continues” ou “Extra lives”. O que foi escrito no imenso livro da vida nunca se apaga. Tudo é escrito à caneta, e não existem borrachas nem corretivos.
Por que não podemos ensaiar a vida primeiro?
Por que não podemos escrevê-la num rascunho para depois passá-la a limpo?
Porque ensaios e rascunhos são para perfeccionistas. A vida não é perfeita. Nós não somos perfeitos, por mais que tentemos. A vida é rígida com quem tenta vivê-la e pode ser severa às vezes. Ela exige que quem tropece em uma de suas armadilhas se levante! Caso este alguém fraqueje, corre sérios riscos de perdê-la. E depois do “Game over” não existe o “Try again”. Aí serão iniciadas outras formas de vida que aqui não cabe descrevê-las, pois nunca as vivi, nem possuo nenhum registro comprobatório.
O “rec” foi dado assim que fomos gerados, mas todos nós sabemos que o “stop” será acionado a qualquer momento, pois a fita da vida irá acabar. O “pause” não funciona, o “Rewind” também não, graças à autoridade do “rec”. Idem para o “Foward”. Mesmo se o “Foward” funcionasse, não conseguiríamos ver nada, devido à virgindade da fita. Tente prolongar ao máximo o tempo e a qualidade de gravação da sua fita, pois ela é definitiva. Ou melhor, em tempos de maior longevidade e tecnologia, por que não usar o dvd?
Por que não podemos ensaiar a vida primeiro?
Por que não podemos escrevê-la num rascunho para depois passá-la a limpo?
Porque ensaios e rascunhos são para perfeccionistas. A vida não é perfeita. Nós não somos perfeitos, por mais que tentemos. A vida é rígida com quem tenta vivê-la e pode ser severa às vezes. Ela exige que quem tropece em uma de suas armadilhas se levante! Caso este alguém fraqueje, corre sérios riscos de perdê-la. E depois do “Game over” não existe o “Try again”. Aí serão iniciadas outras formas de vida que aqui não cabe descrevê-las, pois nunca as vivi, nem possuo nenhum registro comprobatório.
O “rec” foi dado assim que fomos gerados, mas todos nós sabemos que o “stop” será acionado a qualquer momento, pois a fita da vida irá acabar. O “pause” não funciona, o “Rewind” também não, graças à autoridade do “rec”. Idem para o “Foward”. Mesmo se o “Foward” funcionasse, não conseguiríamos ver nada, devido à virgindade da fita. Tente prolongar ao máximo o tempo e a qualidade de gravação da sua fita, pois ela é definitiva. Ou melhor, em tempos de maior longevidade e tecnologia, por que não usar o dvd?
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