Frente aos recentes
acontecimentos, um dos vários questionamentos que me ocorreram foi: o que de
fato eu havia produzido que seria lembrado no futuro? Qual seria a minha obra
principal? Qual a minha contribuição para o mundo? Feitas todas essas
perguntas, cheguei à conclusão de que não havia produzido nada de tão importante.
Tudo viraria poeira. Daí então bateu uma sede de produzir, de inventar, de
fazer algo extraordinário, algo que me fizesse ficar orgulhoso e que, se
possível, pudesse arrancar emoções das pessoas. Mas foi só a vontade, pois nada
produzi. As ideias desapareceram com a mesma rapidez que surgiram. Mas é
preciso mesmo deixar algo aqui?
Sim, os grandes gênios
tornaram-se imortais ao fazer produções que, talvez, nem eles mesmo tivessem ideia
que seriam tão grandiosas. E, salvo algumas exceções, não tiveram a pretensão
de serem grandes. E é justamente esse o ponto de partida: a despretensão. Daí, já
sabia que não era um grande gênio, nem estava com tanto tempo para essa
despretensão.
Mas aí veio mais um
questionamento: por que ser lembrado depois? Não faz sentido. Onde seriam
registradas as emoções das pessoas, os risos e talvez os prantos? Somente em
outras retinas. Ou seja, ser lembrado e não poder ter ciência disso é uma droga
e faz parte de um egocentrismo enraizado e não muito grande, que acabei
descobrindo.
Então, felizmente, a conclusão
que desconstruiu o meu objetivo deu-me o ar da graça: não há necessidade de que
o mundo lembre sempre de você e, muito menos, você não deve fazer nada
grandioso para tal. O simples fluir é que dá forma e beleza à vida. O medo de
ser rapidamente esquecido é proveniente de uma condição anormal do espírito,
aliada a uma incerteza de que se o que se fez durante toda a vida foi bom. Ser
lembrado, então, é uma droga. Ser reconhecido, com um tempo presente definido,
é que deve ser a essência de viver. E viver até onde der, sem medo de chegadas
e partidas. Afinal, quando todas as formas de vida tiverem um fim, ninguém mais
se lembrará de nada.